17/08/2008

Não dá para reinventar a roda - "A tal VJ Times"

por Fabio Lopez

A alguns dias atrás, a equipe de designers da VEJA apresentou algumas mudanças no projeto gráfico da revista, para finalmente resgatar a publicação da década de 80.

O resultado vocês podem verificar nas bancas. Ou não.

Segundo o responsável pelo projeto, o diretor de arte Carlos Nery, a maior alteração ficou a cargo da tipografia: para substituir a descolada Times New Roman, utilizada pela revista há quase 500 anos, a equipe 'projetou' uma NOVA versão da Times (isso mesmo) batizada internamente de VJ Times.

As alterações consistiram basicamente em torná-la menos legível - apesar do diretor de criação ter argumentado justamente o oposto na apresentação oficial do projeto.

Com o intuito de socar mais informação na página da revista, o designer condensou levemente a Times, reduziu suas hastes ascendentes, aproximou os acentos das letras e tornou a fonte levemente mais fina.

Apesar de achar o veículo de informação em questão desprezível (e o Mainardi um completo débil mental) meu espírito de porco falou mais alto, e após ler meia dúzia de críticas sobre o projeto numa outra lista de discussão, calcei o chinelo e me dirigi imediatamente a uma banca de jornal para verificar o que havia sido feito e encontrar divertidas formas de contrariar os outros.

Mas foi impossível. :)

Além de 'atualizar' a Times com a Times Tabajara, o designer parece ter feito tudo que não devia pra deixar a revista um pouco pior. São alterações milimétricas, mas que milimetricamente conseguem foder os culhões do leitor, cansando-o por tornar a leitura ainda mais cansativa - não bastando o conteúdo das matérias e o posicionamento ideológico da revista, parecido com as opiniões daquele seu vizinho reacionário que lamenta o fim da ditadura.

A redução nas ascendentes tornou o contorno das palavras mais sutil e seu reconhecimento imediato mais tortuoso; os acentos estão perigosamente colados nas letras - criando a olhos desatentos caracteres de compreensão duvidosa (ver 'ô'). A redução nas ascendentes causou ainda uma aproximação (intencional) entre as linhas da página, socando a informação e prejudicando o alívio da mancha de texto - proposto de forma antagônica na diminuição da espessura das letras. Essa redução no peso não foi uma atitude muito inteligente, na medida em que uma impressão em rotogravura exige letras mais resistentes, com serifas e hastes sólidas para suportar uma imagem naturalmente pontilhada.
Fotos retiradas com o auxílio de um conta-fios podem ser vistas nesse link (cortesia de Mario Amaya):
alt="Chega a doer os olhos" http://marioav.nadamelhor.com/blog/0808/080804-veja/

As fotos estão muito aproximadas e o melhor é ver a revista na banca. Nessa situação em um primeiro momento nada é percebido, mas com um olhar mais atento é possível reparar que a leitura está sutilmente mais difícil.

Ao que parece, a Franklin Gothic dos títulos também sofreu alguma alteração - nos mesmos moldes Tabajara (e com os mesmos objetivos) do que foi feito com a Times.








Para retirar a dúvida, vale comparar a revista VEJA com a concorrente Época, que recentemente também passou por uma reforma gráfica. No lugar de redesenhar a tipografia nos fundos do quintal, os designers escolheram para a publicação a excelente Stag, do type designer Christian Schwartz e deixaram o projeto bem melhor.

Não se assuste se encontrar inúmeros elogios a equipe de tipólogos (sic) na sessão de cartas: é praxe ver políticos e baba ovos profissionais jogando confete na equipe editorial por qualquer coisa - principalmente no que puder fazer o conteúdo das matérias se tornar ainda mais obscuro.

Ver para crer.

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